segunda-feira, 28 de janeiro de 2013


O silêncio é um verbo a proclamar reflexão. O olhar cansado, batalha contínua, num íntimo tempo restante. Nas rugas conquistadas, passeiam sonhos passados, perfazendo memórias de exaustivas batalhas. Já não vê mais o garbo orvalho a cobrir as pétalas do seu jardim. Clama, mutilando em seu tempo uma única espada a preencher o vazio de seu constante cansaço. As mãos que hoje dançam sem música, vestem a farda de manchas não desejadas. O velho homem, que um dia fora notável, hoje verbaliza seu silêncio na companhia das fotos que somente ele vê. Ele fora amado, menino, seu moço, seu doutor, seu zé e seu ninguém. Hoje ele é apenas “seu”. Mas de quem? Ele não quer ser do passado, ele não deseja mais nenhum futuro. O único presente seria a foice cortando-lhe o pescoço ou o tempo vindo acertar suas contas. Ah, tempo… Patife traiçoeiro que prometera-lhe segundos de eternidade na mocidade. “Deixe isso para depois, você tem todo o tempo do mundo”. O mundo existe agora. O depois pertence ao cemitério dos atrasados. Então que seja breve… A morte ou a vida. Que seja breve.
Cinzentos  

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